10 de novembro de 2010

Rupturas

Eis que ao começar o dia, contrariando qualquer supersticioso roxo, levei meu pé esquerdo ao chão naquela sexta-feira ensolarada que anunciou logo cedo o fim-de-semana bacanudo que estava por vir.
O primeiro raio de sol atravessando a janela brilhou nos olhos simultaneamente a uma dor em meu tornozelo, arrancando do peito um gemido que a tempos não soltava. Manquei o dia inteiro e, ao acreditar no máximo estar sofrendo uma tendinite, o veredito: ligamento rompido.
Desconsolado após a surpresa e pensando nas três semanas de molho mais fisioterapia diagnosticados, contive o choro enquanto mancava a caminho do carro, sentindo que indignação e até uma pequena decepção queriam alugar provisoriamente o peito que considerei, muitas vezes, inabalável.
De nada adiantou: naquela noite, até granizo choveu.
Com algumas exceções do que realmente não nos faz bem, romper, seja lá o que for, é sempre muito chato.
Exemplificando: se a simples conexão com a internet - com suas b(u)andas cada vez mais largas - cair nesse exato momento, você que está lendo meu blog, certamente ficará decepcionado e até puto(a) da vida.
Mas quem nos dera ser desconectado da rede fosse o maior dos problemas. Pode se romper relações espirituais, materiais, amorosas, profissionais, familiares, físicas e até amistosas quando não queremos, e o desgaste em cada ruptura é sempre enorme, principalmente naquelas em que emoções estão envolvidas.
E maior o nosso tempo por aqui, mais laços são criados e, dessa forma, as rupturas - para o bem ou nosso mal (mesmo buscando acreditar que nunca são para o mal).
Exercitar o desprendimento e aceitar o que a vida nos dá pode ser uma solução para os mais sensíveis às perdas, mas essa tarefa não é fácil. Dar a devida medida a cada vínculo e sofrer à sua proporção - quando devido - é coisa de gente grande, e geralmente, daquelas um pouco mais vivenciadas que nós, aprendizes.
Ainda meio chateado, talvez exista sim algo maior que se concretizará enquanto estiver cozinhando no banho-maria do tédio, limitado e impossibilitado em realizar o que mais gosto.
Alivia imaginar que quando algo é ruim, poderia ser muito pior.
Lembrem-se disso ao terminar de ler isso aqui.